domingo, 1 de agosto de 2010

Espera-se a novidade

São Paulo, 14 de julho de 2010



Tarde fria e chuvosa, tempo característico da capital paulista. São Paulo é conhecida como a terra da garoa, não que essa antonomásia seja adequada contemporaneamente, caberia melhor terra dos temporais ou mais amplamente a terra que saturou.

A segunda maior cidade da América Latina tem um número de habitantes descomedido: 10.886.518. Estes algarismos se refletem na economia, sendo assim dona do décimo maior acúmulo econômico do mundo e que inevitavelmente tem resultados no seu sistema de transportes e moradia, constituindo cernes de discussões constantes, mas de soluções ainda não existentes.

A exposição de números sobre a capital econômica do país poderia tomar um espaço e tempo imensuráveis com a amostra de dados sobre a quantidade de água gasta por seus habitantes, a produção de lixo em São Paulo, o quanto deste lixo é reciclado e assim por diante. Porém não é este o objetivo deste texto. Tais informações poderiam ser facilmente obtidas em qualquer site de buscas ao alcance de alguns meros cliques.

Todavia, essa imensidão de dados é inerte se não for analisada de uma maneira minimamente crítica e menos elitista possível. É difícil imaginar como essa quantidade imensa de pessoas se locomove em uma cidade que não foi planejada para tanto, sem contar com os outros tantos indivíduos residentes nos municípios vizinhos - a urbe que forma a chamada área metropolitana - e se dirigem à capital para trabalhar, estudar ou fazer compras. Levando em conta isto, essa idealização fica cada vez mais distante e até certo ponto impossível; não que isso preocupe as autoridades responsáveis, que apenas colocam ‘panos quentes’ no assunto para a próxima gestão, concebendo assim uma discussão sem afinco e objetivo.

Esta constatação, que não é inédita obviamente, interessa muito mais ao proletariado do que à elite, pois esta tem meios para amenizar tal incômodo e não depende tanto do transporte público e outros serviços quanto a classe operária. Até aqui, nada de novo. A nata política não se empenha em resolver o problema de uma vez por todas e assim apenas o maquia temporariamente, enquanto a grande massa sofre com o descaso.



A inovação acontece quando a época de campanha eleitoral se aproxima e com ela os poucos representantes do poder saem de seus palacetes e se dirigem aos grandes conglomerados populacionais, transportados obviamente por seus carros de luxo, para pedirem, e muitas vezes comprarem, o voto dessas pessoas por quantias desprezíveis ou até mesmo por comida, remédios e até dentaduras.

Até aqui a novidade é periódica. A cada campanha eleitoral recomeça a atividade teatral dos candidatos - como também é periódico o ufanismo dos brasileiros, a cada quatro anos lá estão as bandeiras à mostra em todas as casas e lugares, acompanhadas de um patriotismo meramente futebolístico.

A novidade será realmente nova e inédita quando alguém enxergar um político usando o transporte público em São Paulo e sentindo-se satisfeito com isto, quando o paulistano não perder quatro horas por dia no trânsito e quando alguém, com poderes e vontade suficiente, finalmente se empenhar em resolver tal empecilho legitimamente metropolitano.

Texto:
Afonso Verner

Fotos:
1 - Glauco Araújo/G1
2 - Luiz Guarnieri/Futura Press

Um comentário:

André HP disse...

Como qualquer populista, hitler exerceu assistencialismo, como o governo petista, e aplicava esta da dentadura como medida paliativa pra amortecer as forças sindicais.

Trocam os nomes, mas os esqueletos das estruturas...

Abraço!