quarta-feira, 16 de junho de 2010

Silêncio, o jogo começou.



E chega mais uma Copa do Mundo da FIFA. Bandeiras verde-amarelas por todos os lados, lojas tematizadas com futebol, ruas pintadas, pessoas tentando decorar o Hino Nacional, imprensa recheada de pautas da África do Sul, da Seleção Brasileira, do ufanismo demasiado e tudo mais o que tem direito. E o patriotismo surge como se hibernasse desde 2006 nas gavetas da maioria dos brasileiros.

É impressionante ver como o sentimento de "ser brasileiro" se aflora em época de Copa. E assim acontece de quatro em quatro anos religiosamente (ou melhor: “futebolisticamente”). Milhões de pessoas param em frente a uma televisão para externar o amor à pátria, à Seleção Brasileira. As ruas ficam vazias durante os jogos do time deste país tupiniquim, funcionários são dispensados facilmente de suas funções (em paradoxo com a dificuldade de conseguir folga para ir ao médico, acompanhar um filho em uma reunião escolar, resolver problemas burocráticos, etc.) e até quem não gosta do esporte vira fanático durante os 90 minutos. Na quarta-feira, 16, o deputado estadual Antônio Belinatti (PP), em pronunciamento na Assembleia Legislativa, disse ser “uma atitude desumana e anti-patriota dos diretores do Mercadorama, que não dispensaram os funcionários. Os caixas tiveram que ver o jogo em uma telinha apertada e não dava nem pra enxergar a bola!”.

Mas por que ser patriota somente por um período de um ou dois meses e só em uma área (o futebol)? O Brasil ganhando ou não, quando a Copa acabar, em julho, as bandeiras vão sumir, o grito de brasilidade sufocar, o povo voltará a falar mal do país e da política e o Hino... bom, o Hino ainda não deu para aprender bem, mas em 2014 estará afinadíssimo! Ninguém reclama das partidas e da grande cobertura da imprensa, mas será visível a irritação do povo com o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral para as Eleições 2010. A partir de julho (espera-se) os grandes meios de comunicação de massa voltarão a dar o espaço devido para falar do maior desastre ecológico da história dos Estados Unidos, o derramamento de até 9,5 milhões de litros de petróleo por dia no Golfo do México; das Eleições majoritárias para presidente e governador e das proporcionais para senadores e deputados estaduais e federais, que decidirão os próximos quatro anos da vida dos brasileiros; do enriquecimento de urânio por parte do Irã e que ainda não chegou a um acordo com as Nações Unidas na questão nuclear; do Projeto Ficha Limpa que passará a valer a partir do pleito deste ano, de acordo com decisão do Tribunal Superior Eleitoral nesta semana; dos Diários Secretos da Assembleia Legislativa do Paraná e da ainda permanência da Mesa Diretora da Casa; da crise econômica de países europeus, principalmente a Grécia; entre tantos outros temas factuais que merecem a atenção pública.

Com a mídia regional o quadro não é tão preocupante, dado que a abrangência é menor e os interesses jornalísticos são diferentes, mais voltados às notícias locais. Porém, o exagero empregado em grandes grupos da comunicação (principalmente na TV aberta) deve ser algo a ser analisado. O jornalista e político Barbosa Lima Sobrinho, em seu livro O Problema da Imprensa (lançado em 1923 e reeditado em 1997 pela ComArte), cita Tobias Monteiro para afirmar que a pauta jornalística é feita a partir da necessidade do público: “Dizem que os povos têm o governo que merecem. Parodiemos: os povos têm a imprensa que merecem.” A influência midiática parece fazer efeito no povo brasileiro. Infelizmente é o que é visto há uma semana. Porque nos futebol somos os melhores. Já em outras áreas, bem... deixa a Copa passar e depois discutimos.


Crédito da imagem: http://andresonlima.blogspot.com/

Um comentário:

Thiago Terada disse...

Mesmo para mim, amante dos esportes e futuro jornalista esportivo (assim espero), fica claro o exagero que é a Copa do Mundo. Porque toda essa torcida não acontece quando o Brasil vai em busca de acordos econômicos, ou quando o governo tenta implementar novos planos de educação? Muito bom o texto, não comento mais sobre o tema pois se não repetirei os argumentos utilizados no texto.

Abraço.