quinta-feira, 24 de junho de 2010

Cotidiano anestésico



A sucessão de dias atarefados, tão culpada por ser a causa de nosso stress e mau humor, também é a responsável por nossa profunda indiferença a certas ocasiões rotineiras e que mostram o grau de nossa apatia a degradante situação de alguns seres humanos.

Poucos percebem e se importam com isto, mas nas calçadas da maioria dos grandes centros urbanos existem pessoas deixadas a mercê da sorte após uma desintegração familiar, problemas com drogas ou simplesmente desentendimentos domésticos que não foram resolvidos e o destino destes cidadãos foi a rua. Às vezes nossa percepção de tais fatos e situações está tão alienada que torna estas pessoas elementos integrantes a paisagem cinzenta da “selva de pedra” e o cotidiano por elas enfrentado faz com que percam a dignidade e até mesmo se esqueçam de quem realmente são.

Esta humilhante situação é demasiadamente ultrajada pelo martírio do uso de drogas, condição recorrente a grande parte dos moradores de rua e que, em certo ponto, potencializa a criminalidade nos grandes centros. Esta situação poderia ser facilmente questionada por um discurso individualista e até certo ponto preconceituoso e determinista de uma gama da sociedade brasileira, de que tais cidadãos estão lá por vontade própria e que se chegaram até o fundo do poço foi por falta de mérito, dirigindo-se assim para a questão da meritocracia.

Enfim, os discursos podem ser variados e os “achismos” constantes, mas ambos voláteis demais para uma explicação racional de tal situação e pior, de nossa indiferença perante ela. Uma direção para tal resposta pode ser a avidez com que nossa sociedade engole as pessoas que não se adéquam a suas regras estanques e seus preceitos aniquiladores. Os marginalizados neste processo podem ter este caminho, ainda mais provável se não forem de família abastada financeiramente.

Os responsáveis assinalados por tal martírio dos marginalizados podem ser vários, dentre eles o Estado, Família e até eles mesmos, os próprios moradores de rua. Porém, fato é que estas pessoas - que tem sentimentos e dignidade como nós, ainda que estes estejam perdidos em meio a tanto sofrimento e desilusão, estão à margem do convívio social, das tecnologias de que o homem faz uso, do bel prazer da vida e tudo que tem ao seu alcance são as frias calçadas, drogas e uns litros da bebida alcoólica mais barata.


Texto de Afonso Verner - @afonsoverner
Foto: Agência Brasil, em http://www.portalibahia.com.br/falabahia/?p=17097

4 comentários:

Alana Fonseca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alana Fonseca disse...

Afonso, como crítica assídua de suas "obras", aqui estou eu. Achei o texto muito bom, um tema interessante e que passa muitas vezes despercebido por nós. No entanto, atento para o uso desnecessário de palavras rebuscadas em certos tipos de publicações... Entendo que seja, talvez, seu estilo, mas acredito que para postagens de blog a linguagem deve ser mais informal, livre e não digna de resenha emersiana. Ah, e um pouco mais de atenção com crases e demais acentos e pontuação. Aprecio seus escritos e espero que entenda minhas "críticas" como dicas de uma amiga que te quer muito bem e torce por você! Beijos.

Thiago Terada disse...

O texto ficou ótimo. É impressionante como um tema tão "comum" entre nós, quase nunca entra como pauta e reflexão dos grandes MDC.

Sobre o comentário da Alana, eu discordo, acho que nós, alunos de jornalismo, temos que tratar os blogs não como um lugar para entretenimento e sim um lugar para praticarmos o que entendemos por Jornalismo.

Alana Fonseca disse...

Não é bem assim, Thiago. Os jornalistas devem usar sempre uma linguagem clara e compreensível. Como disse Nilson Lage (não nessas palavras): Um jornalista deve ser compreendido tanto por uma pessoa próxima ao fato, quanto por um marciano que acaba de chegar na Terra. E há ainda há aquela dica do texto de Introdução: escrever para uma menina, imaginária, de aproximadamente 12 anos. Quanto aos blogs, sim, devem ser levados a sério. No entanto, como diferenciar blogueiros e jornalistas? Através do modo de escrever...