
Três dias seguidos. Saio da padaria com meus três pães franceses na sacola e, sentado no degrau mais baixo da escada, um menino com roupas velhas e olhos tristes, clamando piedade. "Uma moedinha, tio?". Tenho medo, vergonha, tristeza. Só abaixo a cabeça e sigo. No primeiro dia parece-me normal. No segundo, me sinto incomodado comigo mesmo. No terceiro, resolvo: não vou dar dinheiro. Hoje, quando fui à padaria, como de costume no final da tarde, me lembrei do garoto quando a atendente me pergunta o que vou levar. "Quatro pães, por favor". E torço pra encontrar com ele novamente no mesmo local. Não há surpresa: o menino está lá com a mesma roupa, com os mesmos olhos e com a mesma abordagem. "Uma moedinha, tio?". Aquele foi o momento. Meu dia estava ganho. Meu coração palpitou e acho que fiz uma cara de bobo alegre. "Pode ser um pão?". Ele aceita na hora e seus olhos parecem que atravessam uma barreira. De um lado o garoto triste e com fome, do outro a alegria por ter ganhado um pão. Um pão.
Depois que abri a sacola e entreguei aquele simples alimento pra ele, só vi que jogou algo que mastigava para passar o tempo no chão e levou o pão à boca. Não deu tempo de ver se realmente o comeu. Uma ponta de curiosidade bateu pra voltar pelo outro lado da rua e ver se ele realmente estava comendo ou se tinha jogado fora. Logo passou. Não importa o que ele fez, a minha parte acho que foi feita. Nem olhei pra trás, apenas segui.
Quando vinha pra casa, fiquei pensando. Por que será que é tão difícil a gente olhar pra quem está ao nosso lado? Três pães custam em média 1 real. Cada pão custa aproximadamente 35 centavos! Os 35 centavos perdidos na carteira, encontrados na rua, esquecidos na mesa... mas são os 35 centavos que o garoto dos olhos tristes não têm. Parece ser tão mais fácil apenas abaixar a cabeça e não dar bola pra quem te chama, ou dizer que não tem. Eles sabem que, se temos dinheiro pra ir numa padaria (e essa não é uma padaria das mais baratas), temos 35 centavos para ajudá-los.
Aí vem alguém e me pergunta: mas por que não vão trabalhar ao invés de ficar pedindo dinheiro? Essa pessoa nunca deve ter passado em frente à Agência do Trabalhador às 7:30h e visto a fila imensa de trabalhadores desempregados à procura de uma chance. Os mesmos à cada manhã. Vagas chegam a sobrar, mas pedem experiência, escolaridade, cursos, referências... Que chance vão ter as pessoas que não tem o cuidado e a atenção do poder público? Aquele garoto pode não ter um leque de informações que o ajude a entender que a escola é (ou deveria ser) essencial para sua vida.
Aquele pão pode não fazer a mínima diferença pra ele. Talvez ele esteja pedindo dinheiro para outras coisas e aceitou o pão só pra disfarçar. Ou não, ele pode realmente estar com fome e depender daquele alimento. Nada disso eu sei. Mas amanhã comprarei quatro pães novamente.
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