sexta-feira, 2 de abril de 2010

Construindo o fim da censura


Chico Buarque foi um dos principais contestadores da ditadura militar no Brasil. No álbum Construção, de 1971, Chico expõe a vida dura do trabalhador brasileiro na época. Ele, que tinha se exilado na Itália, volta ao Brasil em 1969 e lança esse disco, o melhor de sua carreira. A música “Deus lhe pague” abre o álbum, com sons parecidos com o de uma locomotiva, onde ele canta que o povo agradece, ironicamente, o pão pra comer, o chão pra dormir, a concessão pra sorrir, o ar pra respirar e até por deixá-lo existir. O sofrimento do povo é mostrado já no início do disco, que contesta o governo militar. Em seguida, “Cotidiano”, música que se tornou grande sucesso de Chico, revela como era, cronologicamente, o dia do brasileiro na época, colocando, para isso, uma história de um casal em primeiro plano. O samba “Desalento” dá um toque romântico ao disco. A quarta faixa, “Construção”, é a obra prima do disco e uma das melhores músicas brasileiras. Com apenas dois acordes, ele constrói a vida de um pedreiro sem perspectivas, destinado a morrer na construção civil. Na primeira parte da música, antes da morte, os fatos se relacionam, mas na segunda parte, após a morte do pedreiro, tornam-se desconexas, graças à troca da última palavra de cada verso. A sonoridade vai aumentando conforme o andamento da canção. Para finalizar, ele incorpora uma parte da música de abertura do álbum, “Deus lhe pague”, mostrando a relação entre a vida do pedreiro e o modo de vida que os militares estavam impondo aos brasileiros. Em “Cordão”, novamente uma crítica ao governo militar. “Ninguém vai me acorrentar enquanto eu puder cantar, enquanto eu puder sorrir”, diz uma parte da música. A próxima canção, “Olha Maria”, Tom Jobim participa com seu piano indescritível, porém parece não se relacionar com o restante do disco, ficando isolada das outras músicas. “Samba de Orly” traz, mais uma vez, referências ao momento passado pelo Brasil. Um amigo que se despede de outro no aeroporto europeu e pede para que traga notícias boas da terra tupiniquim. Uma canção de amor, “Valsinha” tornou-se outro sucesso de Chico, expondo um feliz encontro de um casal. “Minha história” traz uma alegre música do Menino Jesus. Finalizando essa obra prima, uma linda canção de ninar. “Acalanto” sugere que não vale a pena acordar, que a vantagem da negligência do sono é a vantagem absoluta para combater a realidade. Uma música curta que, com o som do violino ao fundo, traz um arranjo lindíssimo e dá um toque de fim, de sono ao álbum: as músicas e os ideais adormeceram.



REFERÊNCIAS
BUARQUE, Chico. LP “Construção”. Phonogram/Philips, 1971.

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