sábado, 18 de dezembro de 2010

Rock in Rio: brasileiro até que medida?

Platéia na Cidade do Rock - Rock in Rio 2010 Lisboa



por Afonso Verner

Depois de anos longe, o Rock in Rio voltou à terra tupiniquim. A última edição no Brasil (2001) teve atrações internacionais como Iron Maiden, Foo Figthers, Guns N' Roses e Red Hot Chili Peppers. Na edição de 2011 o festival promete agradar com os shows já confirmados das bandas ‘gringas’ Coldplay, Motorhead, Snow Patrol e Metallica. Mas, em termos de atrações nacionais, o Rock in Rio 2011 deixa a desejar.

Na sua primeira edição (1985), o Rock in Rio teve na programação artistas principiantes no cenário musical brasileiro - como Lulu Santos, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e Kid Abelha - que depois se tornaram referência para as próximas gerações. Na edição seguinte (1991) a organização continuou a acertar na escolha dos shows nacionais e internacionais. Dentre os gringos que subiram ao palco estavam Jimmy Cliff e Judas Priest; os brasileiros foram bem representados por Engenheiros do Hawaii, Titãs, Roupa Nova, Sepultura, Inimigos do Rei, Lobão, Paulo Ricardo, Capital Inicial, Léo Jaime e Nenhum de Nós. Em 2001 o destaque internacional foi para o Iron Maiden; já nesta edição notava-se a queda das atrações nacionais; nesse ano o destaque era Cássia Eller, que estava no auge da sua carreira. Antes divido entre três ou quatro artistas, agora o peso de atração principal do Rock nacional recaía apenas sobre a cantora.

Desde então o cenário nacional ficou estagnado. No festival de 2011 as atrações, legitimamente brasileiras, são quase todas remanescentes da década de 90 e até de 80; como Skank, Capital Inicial, Sepultura e Angra; fato que reflete a baixa produtividade do Rock Nacional nos últimos anos. A única exceção é a cantora Pitty, que participou da gravação do ‘jingle’ do Festival. A baiana de 33 anos lançou seu primeiro CD no ano de 2003 e participou do Rock In Rio Lisboa (2004), além de ter gravado ao lado de lendas do Rock Nacional, como no Acústico MTV da Banda Ira.

Contudo, apenas um artista em dez anos é muito pouco para o cenário roqueiro nacional. A escassez de atrações brasileiras, vindas da nova safra, na programação do Festival não é culpa ou escolha da organização. Parece mais com um conjunto de fatores, que envolve o público, meios de comunicação e as grandes gravadoras. O país tem sofrido uma invasão de ‘roqueiros’ que vestem colorido e falam de ‘amor adolescente’; o Rock politizado tem perdido espaço e se retido aos porões, cada vez menos freqüentados. Não é meu intuito entrar no mérito de isso é bom ou aquilo é ruim, mas desde a virada do milênio o Brasil perece de Bandas de Rock.

As últimas bandas aclamadas pela mídia e pelo público são do final da década de 90 e parte delas já se desfez. O Raimundos praticamente acabou depois da saída do vocalista Rodolfo Abrantes. Hoje o grupo voltou à estaca zero, atuando quase como uma banda independente. Rodolfo montou o Rodox, banda formada por músicos já rodados na cena, como o baterista Fernando Schaefer (ex-Pavilhão 9 e Korzus) e o guitarrista Patrick Laplan (atual Eskimo, ex-Biquini Cavadão e Los Hermanos). O grupo propôs um som pesado, intitulado por alguns como Hardcore Cristão, porém que não durou muito: em menos de dois anos o Rodox se desfez com uma briga em pleno show. O Charlie Brown Junior passou pela situação inversa: apenas o vocalista permaneceu e todos os outros integrantes deixaram o projeto. Chorão recrutou novos membros e continuou o trabalho, mas a banda nunca mais foi a mesma e o seu som mudou consideravelmente. Champignon assumiu o baixo da banda Nove Mil Anjos, formada também por Peu Sousa (guitarrista, ex-Pitty), Junior Lima (baterista, ex-Sandy & Junior) e Péricles Carpigiani (vocalista, ex-Fuga). O grupo logo ganhou destaque na mídia, já que os integrantes tinham fama individual anteriormente, porém esse sucesso não se repetiu com o Nove Mil Anjos, que não agradou nem publico nem crítica. Outras bandas como Tihuana, Detonautas, Matanza, Dead Fish, CPM 22 (deixando de citar várias outras) não renderam o que os críticos e o público esperavam e acabaram por ocupar um lugar secundário na mídia.

Se a descoberta de novas bandas virá em tempo ou não, aí é uma questão que foge do nosso controle. Mas a constatação de que o país anfitrião do Festival não terá a representação devida nos palcos é algo preocupante. Porém, é prepotência imaginar que o Brasil não tem bandas competentes o bastante para representá-lo bem. Basta imaginar que essas bandas estão por aí, perdidas em algum barzinho ou porão, sem ter o espaço midiático merecido. O que resta é descobri-las.

Texto: Afonso Verner
Foto: Agência Zero - http://www.flickr.com/photos/rockinrio/5126621811/

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